folha separda
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
quinta-feira, 22 de abril de 2021
Substantivo
Esta classe gramatical tem como característica nomear os seres. Sejam eles:
concretos - casa, cadeado, cadeira, mesa, , homem, Deus, unicórnio etc.;
abstratos - amizade, paixão, beleza, felicidade, chegada, trabalho etc.
A diferença que se estabelece entre um substantivo concreto de um abstrato se dá pelo fato de o substantivo abstrato ser, muitas vezes, derivado de um adjetivo, dar nome a alguma qualidade (a beleza), sentimento (a emoção), estado (a tranquilidade), ou mesmo nomear uma ação (a construção). Além disso, está sempre vinculado a outro ser. Ex.: O trabalho é intenso (alguém trabalha, o substantivo "trabalho" depende de alguém que o execute). Ao ponto que o concreto nomeia um ser; seja real (casa) ou do imaginário (unicórnio), cujo ser é independente.
Os substantivos também se dividem em:
Próprios. Nomeiam um ser específico, único: Marcelo, Jesus, Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade, Portugal etc.
Comuns. Nomeiam seres sem o identificarem como únicos, mas pertencentes a um conjunto: casa, carro, cama, sapato, lua, fevereiro etc.
Obs.: Sabemos que só existe uma lua e um mês de fevereiro, mas encaixam-se também em substantivos comuns, já que são nomes individualizados mas não próprios.
Lembramos ainda que em frases como
"Muitos Machados de Assis estão surgindo neste momento.
"Virei uma maria, pois não paro de arrumar a casa."
nós temos verdadeiros substantivos comuns em "Machados de Assis" e "maria", já que no primeiro caso o nome do escritor se refere a pessoas que escrevem tal como ele atualmente, e no segundo "maria" quer aí dizer que a pessoa faz muitos trabalhos domésticos.
Substantivos Coletivos
Há ainda os substantivos que representam todo um grupo de seres. São os substantivos coletivos. Exs.:
Laranjal - de laranjas
Cardume - de peixes
Caravana - de viajantes
Etc.
Prof. Ivonilton G de Souza
quinta-feira, 15 de abril de 2021
segunda-feira, 12 de abril de 2021
O que são classes gramaticais?
Quando vamos estudar a língua, temos que fazer uma análise dela. Fazer uma análise é decompô-la em partes. Da mesma forma que analisando a água decompomos suas partes e descorimos que ela é feita de duas móleculas de hidrogênio e uma oxigênio, representado por H2O. Assim toda frase é composta de palavras que se relacionam entre si, pois uma recebe influência da outra. Esse relacionamento entre as palavras denominamos de sintaxe; tal como na molécula da água, onde hidrogênio e oxigênio se ligam para formar o composto químico H2O.
Pois bem. Até certo ponto, há uma certa dificuldade em se analisar isoladamente as palavras, já que elas no discurso, nas frases, estariam se relacionando. Mas, de qualquer modo, as palavras podem e devem receber um tratamento próprio também. Afinal, temos que colocar ordem na casa. E por isso cada palavra tem sua natureza única, sua peculiaridade, seu jeito especial e inconfundível.
Assim, não foi à toa que falei "colocar ordem na casa". Senão, vejamos... Imagine um quarto todo bagunçado. Não é difícil achar as coisas? E para arrumá-lo não devemos separá-las por itens? Então vamos supor que essas coisas espalhadas sejam só roupas. E você terá que separá-las e colocá-las cada uma em sua gaveta específica. Assim, calças vão para gaveta de calças; roupas íntimas para gaveta de roupas íntimas, camisas para gaveta de camisas e assim por diante..
Ora, imagine então que cada gaveta represente uma classe gramatical. Desse modo, substantivo iria para gaveta de substantivo, adjetivo para a de adjetivo, verbo para a de verbo etc. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que as CLASSES GRAMATICAIS são a "arrumação" das palavras de acordo com suas maneiras de ser. E a classificação de cada palavra é o agrupamento em "gavetas" específicas. Em gavetas específicas porque cada grupo de palavras se comporta de maneira diferente de outro. Do mesmo modo que não dá para colocar uma calça na cabeça. Isso, claro, se a pessoa não for doidinha.
Assim, podemos dizer que há 10 gavetas. Ou seja, 10 classes gramaticais. 10 comportamentos diferentes das palavras, que vão se reunir nas frases. E por isso mesmo podem (mas isso vamos ver depois) assumir outras classes a partir do momento que vão se organizando, adquirindo relações no texto. Todavia, o que importa de início é a essência dessas palavras, sua natureza primitiva. Básica. Eis as classes gramaticais:
Substantivo
Adjetivo
Advérbio
Verbo
Artigo
Pronome
Conjunção
Preposição
Numeral
Interjeição
Todas essas classes veremos depois. Mas o que quero salientar aqui (sem querer, evidentemente, complicar muito as coisas) é o seguinte: a palavra mesmo com sua característica específica, originária, pode, em contato com outra na frase, adquirir um modo de ser diverso. Por isso, é necessário entrar com mais um conceito aqui: o de SINTAXE. E o que é sintaxe? É a relação que as palavras mantém entre si, uma puxando a outra para sua esfera de influência, como o Sol puxa a Terra e a Terra a lua. Mas não vamos nos desesperar, pois meu intuito aqui não é embaralhar a cabeça de vocês e deixá-los doidinhos, enfiando calças pelas cabeças. Mas sim já deixar claro que as palavras podem mudar de classes gramaticais. E classes classes gramaticais são estudadas pela MORFOLOGIA. Só a título de exemplo:
A palavra "belo" é, inicialmente, um adjetivo. Adjetivo porque tem a função de qualificar e especificar um ser, dar suas características. Assim:
O céu é belo.
Como o céu é? Qual sua característica? Ele é BELO. Por essa razão é um ADJETIVO.
Agora vamos supor que um filósofo, Platão por exemplo, dissesse isto:
O belo é verdadeiro.
Aqui as coisas já mudam, né? Pois BELO agora DEIXOU de ser um adjetivo e passou a ser um SUBSTANTIVO. Por quê? Porque está nomeando algo. Passou, assim, a ser o nome de um ser abstrato, nomeia uma qualidade. Por isso é um substantivo abstrato. Além (como veremos em outra oportunidade) de ser o sujeito da frase. E assim VERDADEIRO passou a ser o ADJETIVO porque especifica como é o belo, qualifica-o.
Ufa... Vamos devagar, né? De qualquer forma, é preciso desde já ter algumas coisas já em mente para não cair em erros lá na frente. O estudo das classes gramaticais (morfológicos), apesar de ter certa autonomia, deve ser acompanhado, sempre quando se fizer necessário, do estudo da sintaxe. A isso dá-se o nome de MORFOSSINTAXE (morfologia+sintaxe). É claro que inicialmente é possível analisar as palavras sozinhas, em suas características primitivas. Mas elas não são só palavras isoladas como verbetes de dicionários; mais do que isso as palavras se inserem em frases (como vimos acima) e as frases em discursos. Mas isso, até certo ponto, não nos impede de saber que uma calça é uma calça e uma camisa uma camisa. Não nos impede de arrumarmos nossas "roupas-palavras" nas gavetas. Afinal, quem de vocês gosta de bagunça? Bem... Não precisam responder...
Prof. Ivonilton G de Souza
quinta-feira, 8 de abril de 2021
quarta-feira, 7 de abril de 2021
Notas sobre aspectos literários em "Furto de flor", de Carlos Drummond de Andrade
A seguir, trago um texto de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos nossos melhores escritores. Nascido em Minas Gerais e tendo se fixado no Rio, Drummond destacou-se na poesia e na crônica literária, sendo conhecido mundialmente.
Furto de flor
Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me.
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
(Carlos Drummond de Andrade)
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Interpretação do texto
Esse texto de Drummond é uma crônica. Crônica porque fala de fatos do dia a dia, mistura realidade com ficção, ou seja, história criada pela imaginação. Nesse sentido há quem diga que pode ser até um conto, história exclusivamente ficcional. Como as fronteiras são tênues, próximas (e o autor não dá opinião diretamente), podemos até usar o termo crônica literária. De qualquer modo, é um texto leve e descontraído, que termina com um humor. O fato de o porteiro, que antes estava dormindo, ver o rapaz devolvendo a flor, já morta, no jardim e dizer que é "lixo".
Mas qual a mensagem que o texto passa? Encerra alguma moral? Acreditamos que sim, pois a crônica fala do arrependimento do homem que furtou a flor, tirando-a do seu ambiente natural. É bem significativo quando no final do quarto parágrafo ele diz: "Eu a furtara, eu a via morrer". Isso já indica uma certa angústia do narrador. Desse modo, a literatura tem a função também de passar conteúdos morais. Alguns textos literários fazem isso com mais clareza, tratando o tema literário unicamente com fim pedagógico e moralista. Estes textos são as fábulas, que encerram sempre uma "moral da história". Já outros textos ficcionais trazem a questão moral mais implícita, ou seja, não tão clara, cabendo ao leitor descobrir nas entrelinhas qual significado ético do texto. Desse modo, a crônica (ou conto) de Drummond se enquadra nesse segundo tipo de texto. O autor não faz alusão direta ao comportamento dos personagens, mas de certa forma induz ao leitor a pensar algo a respeito do caráter deles (aqui no caso o porteiro e o narrador, que pegou a flor). Assim, podemos inferir que a pessoa que furtou a flor tinha boas intenções, mas que seu gesto não foi tão bom, como também imaginar que o porteiro do edifício era relapso, preguiçoso em seu trabalho. Mas de qualquer forma cabe mais ao leitor essas conclusões. O narrador da história só narra os fatos, indicando as situações para colocá-las em julgamento de quem lê.
Esse texto é repleto de sentimentos do narrador, que está em primeira pessoa (ele mesmo narra sua história). São sentimentos de amor, carinho com a flor, cuidados, arrependimentos etc. Assim, a literatura está sempre analisando as características psicológicas das pessoas, seus afetos, sua personalidade, enfim. E muitas vezes nos identificamos com essas personalidades. Isso se dá da mesma maneira que nos identificamos com um personagem bíblico ou de uma novela, por exemplo. Essa é uma das tarefas principais da literatura: nos enxergarmos atrás dos personagens. Enxergarmos muitas coisas que às vezes não vemos no nosso dia a dia. Serve como um "espelho" para nos vermos. E para, além de tudo, vermos o outro. Vermos que há uma pluralidade de maneiras de agir das pessoas. Nesse sentido, podemos dizer que a obra literária traz várias visões de mundo. E isso pode ser muito importante, pois aprendemos a nos depararmos com as diferenças e vermos que nem todos são iguais. Mesmo que haja atitudes boas ou más.
Não cabe à literatura dizer as coisas com necessária objetividade, por isso é comum realçar os objetos, colorir sua narração com o que chamamos de figuras de linguagem. Figuras de linguagem são maneiras de escrever que trazem um estilo pessoal e próprio, dando mais sentimento, mais afetos, mais emoção ao que é contado. Assim, por exemplo, fica mais bonito dizer para alguém que se gosta "Seus olhos brilham no meu coração" do que simplesmente dizer "Tenho afeto por você". Sim. Usar a linguagem literária é uma boa forma de conquistar corações. Por esse motivo, Drummond, ao invés de dizer que "a flor estava se recuperando bem", preferiu dizer: "notei que ela me agradecia". Ou então, no momento trágico da história, ele diz "com a cor particular da morte" em vez de simplesmente dizer que ela morria.
Assim, todo texto literário possui esses dois requisitos que aqui vemos nessa crônica:
- O conteúdo. A moral, o significado ou mensagem interior que o texto quer passar. No caso, a questão do furto, do egoísmo de querer a flor em casa, do arrependimento etc.
- A forma. Como a história é contada, seu exterior. Pode ser contada em forma de fábula, poesia, romance, conto ou crônica. Pode ser contada com um ou mais parágrafos, com uma escrita formal (português "oficial") ou informal/coloquial (português popular). Pode ser contada com bastante figuras de linguagem ou de maneira até mais seca.
Concluindo, a literatura está sempre a serviço de uma questão moral, psicológica, sociológica e filosófica e, por outro lado, como é arte (e arte tem a função de embelezar), está também sempre a serviço da estética, da forma especial como se escreve, estilo próprio. São esses dois conjuntos que trazem, que evocam identificaçôes e sentimentos a nós. É como uma música: às vezes prestamos atenção só na letra (conteúdo), às vezes percebemos só a música mesmo (a melodia, o ritmo, o som, a forma em si). Mas é no conjunto forma/conteúdo que temos a obra por inteiro.
Prof. Ivonilton G de Souza